Muitos podem acreditar que cenários são
apenas planos de fundo, mas eles podem conter informações cruciais, que darão
mais veracidade ao texto fílmico. Os cenários servem não somente para ambientar
a cena, como também informam ao espectador dados importantes, como a época em
que o filme se passa e, até mesmo, características da personalidade dos
personagens.
O filme Psicose, de
Alfred Hitchcock, apresenta em sua narrativa o icônico vilão Norman Bates, e
sua trama explora os transtornos psiquiátricos do personagem. Para isso, o
diretor usa a figura dos pássaros empalhados para ressaltar a confusão mental
de Bates. O fato de Norman possuir habilidades em taxidermia justifica como o
personagem conseguiu conservar o corpo de sua falecida mãe.
Os pássaros empalhados também servem como metáforas para as mudanças de comportamento do personagem. Em determinada cena, Norman apresenta-se de forma tranquila e amigável. Neste momento, ele está sentado próximo a um pássaro em posição calma.
Na mesma cena, o rapaz assume uma postura mais agressiva e ameaçadora, já dando indícios de sua personalidade assassina. Para ressaltar ainda mais essa característica, o diretor Hitchcock decidiu enquadrar, no mesmo plano, o personagem e um pássaro em posição de ataque.
Mais adiante, quando Norman está relutante em observar Marion Crane tomando banho, o jovem aparece justamente entre os dois pássaros já citados, representando assim uma batalha entre sua personalidade mais calma e a mais agressiva.
O filme também usa a figura de um corvo empalhado para indicar a morte. Tanto Marion quanto o investigador foram assassinados após darem de cara com o tal corvo.
É interessante notar que ao chegar ao quarto, Norman faz questão de ele mesmo ascender a luz do banheiro, cenário importante para a narrativa. Essa técnica de desenvolvimento de roteiro é chamada de “Foreshadowning” e consiste em apresentar elementos que serão essenciais no decorrer da trama.
Mas esse recurso também é usado para caracterizar outros personagens. Isso ocorre com a própria Marion no início do filme. Ela trabalha como secretária, e ao fundo há sempre um quadro de um lugar deserto. Mas, quando ela decide roubar o dinheiro de seu patrão, ela sai de cena passando por um quadro repleto de elementos naturais, como árvores, água e montanhas. Isso representa que antes, a personagem não possuía nada, e agora estava cheia de dinheiro.
As melhores
produções audiovisuais estão repletas de pequenos detalhes que fazem toda a
diferença na estrutura de narrativa. Esses elementos contribuem para maior
imersão do espectador na trama, fazendo-o crer na história que está sendo contada.
É necessário se atentar na inserção de objetos de cenários que auxiliem no
desenrolar do enredo, pois isso serve para autenticar o que está sendo dito no
roteiro.